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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ano Hercúleo - 01 - Leão de Neméia

Olá meus caros!

Como programado, estamos no final do mês e isso significa mais um trecho na caminhada de Hércules!

Neste conto ele irá iniciar seus doze trabalhos enfrentando o terrível Leão de Neméia!


Espero que se divirtam muito!

Hércules chegou em Micenas com o sol se pondo às suas costas e se dirigiu ao palácio real.

A cidade ainda estava viva com seu comércio, cheio de transeuntes e ambulantes que abriam espaço prontamente quando viram o gigante corpo do herói se aproximar. Um sujeito chegou a lhe oferecer um arco, falando que era feito de uma madeira tão resistente que, ao ser tracionado, mandaria uma flecha a centenas de metros de distância, mas, com um pouco de força, a arma se estilhaçou nas mãos musculosas de Hércules, que apenas riu e devolveu os restos para o vendedor, batendo de leve na própria arma que trazia.

Além de suas armas, Hércules trazia consigo Iolau, filho de seu meio-irmão, Íficles, que daria testemunho de seus feitos, quando retornassem para casa, e teria a oportunidade de se desenvolver pessoalmente ao acompanhar e observar o tio.

Nos portões imensos do palácio, Hércules foi barrado pelos guardas, que demandaram que ele aguardasse até ser recebido pelo Rei Euristeu.

Euristeu era uma criatura na forma de homem que somava tudo que não deveria ser esperado de um monarca, suas feições eram feias, moldadas num corpo pequeno e fraco, com a voz esganiçada de uma velha bruxa e capaz de tantas crueldades quanto a mesma, além de ser um covarde e mentiroso sem igual, de modo que, ao se abrirem os portões, o rei avistou apenas a silhueta do herói colossal, contra o sol vermelho do poente, e debandou para seus aposentos, onde ficou chorando, lamuriando e pensando numa forma de se livrar de tal monstruosidade até pegar no sono.

Hércules, no receio de perder a oportunidade de se redimir, mandou Iolau conseguir um quarto para si na cidade e aguardou, sentado junto à entrada do palácio, por uma exigência ou missão.

Enquanto o herói aguardava noite à dentro, os sonhos de Euristeu eram invadidos por Hera, que mostrou uma criatura terrível, considerada imbatível, e cujo rugido fez o rei acordar aos berros de desespero quando o sol estava nascendo, berros que se tornaram uma risada maléfica, antes do rei recompor a pouca postura que possuía e chamar por seu serviçal.

Copreu, cuja índole era perfeitamente representada pelo seu nome, que significava “esterco”, recebeu as instruções do rei e se dirigiu até os portões, se deliciando a ponto de salivar com a oportunidade de dar ordens à um herói renomado como Hércules. Ao se deparar com o guerreiro, o mensageiro inflou o peito, se empertigou até sua máxima altura, que mal chegava aos cotovelos do gigante, e cuspiu numa voz seca e arrogante que aquele a serviço do ilustríssimo governante de Micenas deveria se retirar e retornar apenas com alguma prova de que havia aniquilado o aterrador Leão que atormentava o vilarejo de Neméia.

Ignorando os maus tratos do mensageiro, Hércules se virou e seguiu para seu destino, se sentindo tranquilo, pois já havia matados leões antes, não teria problemas de acabar com mais um.

Ao chegar, pensou ter encontrado a aldeia vazia, com as casas fortemente trancadas, janelas embarreiradas e ruas desertas, porém, com o cair do dia, viu que tímidas luzes eram acesas dentro de cada construção.

Sem demora, Hércules bateu em uma das residências, questionando se não poderia entrar, mas foi imediatamente rejeitado por uma voz masculina e adulta que alegava estar na época do leão sair de sua cova para comer, o que fazia uma vez por semana, e que o forasteiro deveria fugir o mais rápido possível, uma vez que nenhum habitante seria louco de abrir suas defesas para abrigar um estranho.

Ao perguntar de onde vinha tal besta, pois queria encontrá-la, o gigante, após um silêncio desconfortável, foi direcionado para a floresta ao sul da aldeia e avisado que era desperdiçar sua própria vida buscar embate com um monstro terrível como o Leão.

Hércules sabia que a outra opção era viver com a morte de seus filhos sobre seus ombros e nunca havia temido uma boa batalha, então seguiu para fora da cidade, onde avistou uma oliveira frondosa, próxima à casa de um velho que empilhava lenha do lado de fora.

Questionando o que o velho estava fazendo, este o respondeu que todas as semanas, desde que se mudara para fora da vila de Neméia, ele acendia uma fogueira em sacrifício à Zeus, que o protegia dos ataques do Leão.

Hércules quis saber porque o mostro era tão temido e descobriu que ele havia nascido de Tífon e Équidna, dois monstros poderosíssimos. O Leão era um pouco maior que outros de sua espécie, mas muito mais pesado e rápido, o que o tornava muito mais forte, além de ter um rugido tão poderoso que podia ser ouvido à quilômetros de distância, mas a fera ainda possuía uma característica mais inacreditável que todas as outras somadas, sua pele era tão resistente que nenhuma arma mortal poderia feri-la, tornando-o invulnerável.

O herói começou a compreender porque haviam lhe dado esse trabalho e qual era o real intuito de Euristeu...matá-lo. Porém, sem vacilar por um instante sequer, Hércules pediu a frondosa oliveira para o velho em troca de eliminar o leão.

Acreditando estar fazendo a última vontade de um homem condenado, o ancião aquiesceu, e viu com enorme surpresa o guerreiro arrancar a árvore do solo com apenas umas das mãos e, com grande habilidade, quebrar e arrancar os galhos até ficar com uma formidável clava, de altíssima qualidade pela dureza da madeira.

Colocando a arma no ombro, pediu que o velho aguardasse seu retorno para fazerem juntos um sacrifício à Zeus. Quando retomou sua capacidade de falar, após a demonstração da força de Hércules, o dono da casa perguntou o que deveria fazer caso ele não voltasse e foi requisitado que, caso o herói não voltasse em trinta dias, deveria fazer um sacrifício funeral, para que sua alma vá tranquilamente para o hades.

Hércules caminhou por dois dias até encontrar os primeiros rastros, pegadas grandes e profundas, além de espaçadas, mostrando os enormes saltos que o felino dava, dificultando o trabalho de serem seguidas, mas o guerreiro era também um ótimo caçador e encontrou em poucos dias o leão dormindo numa clareira.

Se aproximou sorrateiramente o máximo que pôde e disparou a sua primeira flecha, acertando entre os olhos cerrados, mas ricocheteando sem causar ferimentos. A segunda flecha atingiu o pescoço e voou para longe, fazendo apenas o animal se coçar, como se atormentado por uma chata mosca.

Nesse tempo, Apolo já estava quase no ponto mais alto de sua trajetória e com a luz e calor intensos o leão acordou, se agitou levemente olhando em direção ao sol, como se praguejasse ter sido atrapalhado, e começou a caminhar lentamente mata a dentro.

Hércules seguiu a fera até que esta entrou em uma cova no chão, onde provavelmente retomaria seu descanso, e o filho de Zeus decidiu que iria ficar aguardando o leão sair da toca, uma vez que, no seu interior, ele não teria espaço para manusear sua clava.

Por um dia o guerreiro aguardou em vão, pois, quando o sol atingiu novamente seu ápice, ele escutou o Leão rugindo em um outro ponto da floresta, um som tão poderoso que fazia as folhagens das árvores vibrarem em direções contrárias ao vento.

Acreditando que deveria ter cochilado durante a noite e, somado ao escuro, a fera poderia ter saído desapercebida, Hércules se escondeu atrás de uma pedra próxima, disposto a atacar quando a criatura estivesse para entrar em sua toca, já que sabia não ser capaz de alcançar o local de onde vinha o som antes que o Leão se movesse para outro lugar.

Por três dias e três noites o gigante vasculhou atentamente o horizonte, mantendo sua atenção o mais focada possível, mas foi surpreendido com o felino saindo da gruta, se abaixando para pegar impulso e dando um salto inigualável que o fez sumir entre as folhagens.

Após pensar sobre isso e tendo a certeza que não havia dormido dessa vez, Hércules se deu conta de que a cova deveria ter uma segunda entrada, a qual encontrou após algumas horas de busca.

Pretendendo encurralar sua presa e utilizando de sua força divina, selou a outra entrada com enormes pedras e correu para seu esconderijo onde aguardaria novamente o Leão.

Quando a tarde estava se aproximando do fim, Hércules pode ouvir os rugidos e gruídos irritados da besta, que deveria ter acabado de descobrir o acesso bloqueado. Minutos depois, o guerreiro viu o leão surgir entre as folhagens, mas, como já estava quase escuro e seu adversário estava atento e irritado, ele decidiu que o deixaria entrar em sua toca e o pegaria desprevenido assim que saísse no outro dia, pois também estava cansado de ficar tantas noites em claro.

O instinto do gigante o acordou quando os primeiros raios de luz despontaram no horizonte e ele se aproximou da caverna, tentando descobrir se o mostro já estava desperto. Conseguiu escutar, no fundo da gruta, o leão bufando e arranhando, provavelmente tentando remover as pedras, então Hércules correu para a outra entrada onde viu que um dos blocos já havia sido rolado para fora, deixando uma abertura.

Rapidamente, o guerreiro recolheu galhos secos, ateou fogo neles e os jogou para dentro do buraco. A cova, com o vento a favor, acabou se tornando um enorme cachimbo, jogando toda a fumaça dos galhos para dentro.

Hércules, usando de toda a sua velocidade, correu para a primeira entrada e ficou apostos com sua clava em riste, até que a fera saiu tossindo e com olhos vermelho, faiscando de ódio. O golpe da clava foi certeiro e tremendo contra o crânio do felino, fazendo toda a terra retumbar, mas a pele invulnerável cumpriu seu papel e o que foi estilhaçado foi apenas a arma, que rachou de ponta a ponta.

No entanto, a força hercúlea havia sido suficiente para atordoar o animal, que cambaleava sem conseguir se manter firme em pé, dando a oportunidade do herói saltar em suas costas e impedir sua respiração numa poderosa chave de pescoço.


O Leão se debateu por muitos minutos, numa disputa de resistência e força, mas em vão, pois o filho de Zeus saiu vitorioso, largando o corpo inerte no chão e caindo sentado de exaustão, pelos poucos dias de sono e muita luta.

Após descansar, Hércules decidiu que não haveria prova maior de sua conquista do que levar a própria carcaça de volta a Micenas, mas a viagem estava se mostrando longa e penosa, uma vez que a criatura pesava muito mais que um leão qualquer, e levou dias apenas para chegar na casa do velho, que preparava uma pira funerária em seu jardim, com um boneco de palha surpreendentemente parecido com Hércules em seu topo. Um mês havia se passado, desde que saíra daquela casa.

Vendo o Herói ao longe carregando o corpo do animal, o velho deu um grito de surpresa e júbilo e comentou que ele não precisaria ter trazido tal prova, pois acreditaria na palavra do semi-deus.

Hércules então explicou que deveria levar uma prova física de sua vitória para o Rei Euristeu, quem exigira a caça, mas não tinha ideia de quanto tempo levaria, pois a única comprovação que possuía era o próprio corpo do leão, que pesava mais que um enorme bloco de rocha.

O velho então sugeriu que o leão fosse esfolado, como fizera tantas vezes para tirar o couro de seus bois, mas Hércules explicou que a invulnerabilidade ainda estava ativa na pele da fera e que havia gasto todo o fio de sua faca tentando chegar na carne, em diferentes pontos.

De qualquer modo, seria uma viagem terrível até Micenas, pois o corpo da fera já estava começando a exalar o cheiro da morte, que não só se tornaria insuportável quanto atrairia todo tipo de carniceiro para o herói. Então decidiram que iriam achar uma forma de terminar o trabalho.

Foi durante a refeição matinal no dia seguinte que o velho teve uma ideia, por que não usar as poderosas garras do leão, para rasgar sua própria pele?

Hércules rugiu de alegria quando a garra penetrou, com dificuldade, na pele, fazendo escorrer o sangue negro e coagulado. Levaram quase dez dias para retirar a pele e curti-la, mas no final o prêmio fez valer o esforço. O Guerreiro poderia vestira a pele como uma capa e poderia viajar rapidamente.

Após queimarem os restos do leão de Neméia em sacrifício a Zeus, Hércules se despediu do velho e partiu, pedindo para que ele espalhasse a notícia de que não só o vilarejo quanto toda a região estavam livres dos constantes ataques.

Sem a carga, o herói chegou aos portões de Micenas em poucos dias de marcha, onde jogou a pele gritando pelo Rei. Euristeu enviou Copreu para confrontar Hércules, e correu para seus aposentos gritando quando viu a cabeçorra do felino mítico.

Copreu, jogando a pele de volta para Hércules, ordenou-o a aguardar na taverna onde seu sobrinho estava até ser convocado para um novo trabalho, mas admitiu, muito a contra gosto, que aquela missão havia sido cumprida.

Euristeu não saiu de seu cômodo, pegando no sono quase rouco de tanto gritar de ódio e medo, e naquela noite Hera invadiu seus sonhos novamente.

Continuaremos no final de fevereiro com o próximo trabalho!

Saudações mitológicas e até a próxima!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ano Hercúleo - Prólogo

Bem vindo de volta meus caros!

Como prometido, este será o prólogo para o nosso Ano Hercúleo! Nesse conto, irei mostrar, de forma sucinta, como o grande heróis nasceu e se tornou o homem que é.

Espero que se divirtam e, no último conto de Janeiro/14, teremos o seu primeiro grande trabalho!


Hércules, um homem de musculatura e proporções enormes, rumava para a cidade de Delfos, onde buscaria os conselhos do famoso oráculo. Seus longos cabelos negros, emolduravam a face de tristes olhos da mesma cor, que lhe davam um ar ambíguo, tanto selvagem quanto o quadro da mais perfeita depressão.
Ninguém, ao seu redor, sabia do sofrimento que sentia, até os próprios deuses teriam dificuldade de entrar na mente turbulenta daquele homem em desespero. Não conseguindo, ele mesmo conter o turbilhão, Hércules virou para os céus e bradou, com sua voz grossa e tão similar a um rugido:
- Meus deuses! O que esperam de mim? Por que devo sofrer tanto? - E caiu de joelhos na estrada vazia.
Como se em resposta, vindo dos céus, uma coruja, com suas penas uma mescla equilibrada entre cobre e prata, pousou no ombro do gigante homem.
Ao visar os olhos do herói, a criatura divina viu apenas a expressão de um homem perdido e indagou:
- Caro Hércules, o que faz buscando a cidade de Delfos? Espera encontrar o perdão dos deuses?
- Minha cara Nikitmene, você esteve ao meu lado durante anos. Lembro de sua presença desde a minha mais tenra idade, mas me abandonou quando me tornei um homem e casei com Mégara.
- Nunca o abandonei, grande herói, apenas passei a observa-lo de longe. – Respondeu a coruja, com uma voz mansa e carinhosa – Fiquei ao seu lado enquanto Athena assim desejou, como agora.
- Athena?! – Questionou com surpresa – Então é para ela que responde! E que respostas me traz dos deuses? Serei para sempre um sofredor que mal sei de onde vim?
- Me siga Hércules, trago ordens de Athena e Zeus, para lhe contar toda a verdade. Você sempre se mostrou um homem bom e honrado, mesmo com todas as recentes amarguras, e agora irá saber de tudo.
Hércules se desviou do caminho usual e se embrenhou na floresta esparsa, sem temer homem ou fera, pois possuía a força de inúmeros guerreiros, a sabedoria de centenas de anciões e o conhecimento militar de milhares de generais. Ao encontrarem uma clareira adequada, se sentaram e a ave começou a contar toda a história.

- Você Hércules, é na verdade filho de Alcmena com o maior dos deuses, Zeus, o senhor do Olimpo.
- Eu sou filho de um deus? E quanto a Anfitrião?
- Ele é seu pai por criação, pois, como todo semideus, você não pôde viver ao lado de seu pai verdadeiro. Zeus tinha grandes planos para você.
Durante muitos anos, ele viu os helenos se degladiarem em guerras, contendas e disputas desnecessárias, até decidir que todo o povo grego deveria ser unificado embaixo de um único rei, um herói.
Para isso decidiu que ele mesmo teria que gerar tal homem e, buscando uma mulher adequada, acabou se apaixonando por Alcmena, descendente de Perseu, mas ela estava prometida para Anfitrião.
O casamento de ambos deveria já ter ocorrido, mas, por um golpe do destino, Anfitrião acabara matando acidentalmente o pai de Alcmena, que passou a se recusar de estabelecer laços com o assassino de Eléctrion.
Então, usando de seus poderes divinos e se aproveitando da situação, Zeus fez com que Alcmena aceitasse Anfitrião, desde que ele aceitasse a condição de entrar em guerra com os Teléboas, guerreiros com voz de trovão e antigos inimigos de Eléctrion, assim que os rituais de união fossem concluídos.
Por ainda amar Alcmena, Anfitrião não questionou tal pedido, por mais estranho que tenha parecido, e partiu para guerra antes mesmo do festim nupcial se iniciar.
Zeus acompanhou a guerra de seu trono no Olimpo, observando cada trejeito e conquista do guerreiro, e, após três dias de batalha, viu que os Teléboas estavam derrotados. Não perdendo tempo, o senhor dos deuses tomou a forma de Anfitrião e se apresentou para Alcmena, contando todas as proezas que fizeram em combate, numa atuação tão perfeita que enganaria qualquer mortal.
Recebendo tantos detalhes e reconhecendo os trejeitos de seu marido, Alcmena se entregou para Zeus e fizeram amor durante três noites.
Para lograr tal feito, Zeus enviou Hermes com ordens para três deuses, Hélios, o deus Sol, não deveria sair de seu palácio, Selene, a deusa da Lua, deveria retardar sua caminhada nos céus e, por fim, Hipnos, o deus do sono, deveria manter todos os mortais dormindo durante os três dias, para que estes não percebessem a sua passagem.
Dessa união apaixonada, você foi concebido, meu querido Hércules.
- Mas, se sou filho de Zeus e destinado a governar os gregos, por que estive casado com Mégara e, apenas, dono de algumas terras? – Questionou o herói, trocando sua posição para uma mais confortável, sua expressão de homem desgraçado já mais amena.
A coruja também se ajeitou e continuou, numa voz séria:
- É por causa de Hera. Como bem sabe ela é a deusa da família e abomina qualquer tipo de traição nupcial.
Próximo ao dia em que você nasceria, Zeus não se conteve mais e juntou todos os Olimpianos para contar sobre seu filho e seus planos de unificar a Grécia, dizendo em como o próximo filho da linhagem de Perseu iria se tornar o governante de todos os helenos.
Com o ciúmes correndo por suas veias e já bolando um plano para se vingar de seu marido, Hera pediu para que Ate, a deusa do erro, jogasse seu manto invisível sobre o grande deus e perguntou se ele confirmaria novamente essa previsão.
Com o peito cheio de orgulho, seu pai jurou sobre as águas do rio Estige, que percorre o mundo dos mortos, que todos os mortais se curvariam para o próximo bebê que nascesse com o sangue de Perseu.
Vendo o pacto selado, Hera buscou a ajuda de Ilítia, a deusa dos partos, para que retardasse o seu nascimento e acelerasse a vinda de seu primo, Euristeu, para o mundo, mesmo que na forma de uma criaturinha miúda e fraca.
Ao saber de toda a artimanha, Zeus, lançou Ate para fora do Olimpo, banindo-a eternamente para o mundo mortal, e tornando o erro algo apenas relacionado à humanos, mas não poderia voltar atrás de suas palavras. Anos depois, Euristeu, o qual se mostrou um homem mesquinho, débil e ardiloso, se tornou o rei de Micenas, pois não foi capaz de unificar toda a Grécia.
Porém, o grande deus não deixaria seu filho desamparado, pois sabia que Hera iria perseguí-lo até o fim dos tempos, uma vez que ele ainda seria um grande herói, responsável por inúmeros feitos fantásticos, e mandou que Athena cuidasse de você.
E assim começou a sua história.
- Agora começo a entender porque você esteve ao meu lado. – Ponderou Hércules – Corujas sempre foram um símbolo da deusa da sabedoria.
- Sim, eu fui enviada para observar você e lhe passar todo o conhecimento Olimpiano, tornando-o culto e sábio, assim como proteger você desde o segundo dia.
- Segundo dia? Athena não deveria ter me vigiado desde o começo?
- Sim, mas, no primeiro dia, ela lhe deu um presente mais valioso, sua força e invencibilidade. Quando você nasceu, Athena avisou Alcmena sobre os ataques da deusa, e a aconselhou a esconder você no campo, o que foi feito sem demoras.
Utilizando-se de sua infinita inteligência, Athena saiu para caminhar com Hera e fez com que ela passasse próxima do seu esconderijo, para que você fosse encontrado.
Hera, não desconfiando da filha de Zeus, pensou ter encontrado um bebê qualquer, que estava abandonado, e o alimentou com seu leite divino, lhe conferindo força e velocidade sobre-humana, assim como uma resistência muito maior daquela de qualquer outro mortal.
Naquela noite, você foi levado de volta para o palácio de Alcmena e Anfitrião, onde conquistou seu primeiro ato heroico.
Athena estava explicando para sua mãe e seu pai adotivo tudo o que havia ocorrido no Olimpo, e como você deveria ser criado com amor e dedicação, acreditando que tudo estava calmo no outro cômodo. Porém, vendo uma abertura na sua proteção, sem saber que você havia bebido o leite mágico, Hera enviou duas enormes serpentes, que rastejaram silenciosamente e o atacaram.
Ao escutarem o estardalhaço, os dois mortais e a deusa, correram para ver como você estava, mas era tarde demais. No chão do quarto, encontraram apenas as carcaças sem vida das víboras, que não resistiram à sua força e invencibilidade e foram estranguladas até a morte.
Naquela mesma noite, Athena me convocou e eu fiquei ao seu lado até a vida adulta, não só garantindo tudo que já lhe mencionei, mas, também, encontrando os melhores mestres e tutores nas artes da cultura e da guerra, para que você fosse moldado com o maior de todos os heróis.
- O maior de todos os heróis? – Riu Hércules, tristemente, seus olhos se enchendo de lágrimas – Você partiu quando eu me tornei um homem, então deixe-me contar como minha vida seguiu até esse dia:
Realmente, Anfitrião me criou como a um filho, me ensinou a guiar carros de combate, manusear a espada e o arco, assim como convocou os melhores para me ensinarem a arte da guerra, da música, da ginástica e das letras e, durante anos, eu fui feliz e heroico, pois matei o leão que atormentava os rebanhos de meu amigo Téspio e comandei as tropas que livraram o reino de Tebas e seus arredores dos terríveis homens de Orcômeno, senhor da guerra que vinha conquistando e escravizando toda a Grécia.
Essa última conquista me proporcionou minha maior felicidade e minha maior desgraça, pois Creonte, rei de Tebas, me agradeceu com a mão de sua filha Mégara, uma mulher maravilhosa, e me tornando o sucessor do trono.
Deveria ter suspeitado de minha linhagem, uma vez que fui presenteado pelos deuses, no meu casamento, com uma couraça completa, uma espada afiadíssima, um arco sem igual e um escudo que, até agora, se mostrou indestrutíveis, todos esses itens feitos do mais puro ouro, assim como dois cavalos velozes como o mar em tempestade.
- Me lembro disso. – Comentou Nikitmene – Lembro também de como foi difícil manter sua mente longe dos deuses, para que não pensasse sobre sua descendência. Foi a última vez que nos vimos.
- Sim, aquela foi a última vez e os anos seguintes foram os mais felizes de minha vida, continuei me aventurando e Mégara me presenteou com três lindos filhos. Mas, num momento de total loucura, acreditei que estava sendo atacado por três dragões, num palácio amaldiçoado, e os ataquei sem perdão, assim como destruí sua morada.
Após horas de combate e destruição, minha visão se turvou e vi que, na realidade, eu havia acabado com o palácio de Creonte, deixando apenas blocos de rochas espalhados que, uma vez removidos, me mostraram a pior visão que já tive, os corpos de três crianças dilaceradas.
Eu, sozinho, havia executado meus próprios filhos.
Sem poder me conter, abandonei minha casa, sob as ameaças de Mégara, a mulher que eu amei, me envenenar durante o sono como vingança, e vaguei pelo mundo sem destino. Até que, conhecendo um viajante, fui informado sobre o Oráculo e decidi ir até Delfos, descobrir porque sou tão amaldiçoado.

A expressão de Nikitmene era sóbria, mesmo para uma coruja, e, usando o tom mais reconfortante que conseguiu, assumiu:
- Eu já sabia de sua história, pois vivo no Olimpo. Mas agora você sabe de tudo que aconteceu sem o seu conhecimento e peço para que não se sinta tão desolado. Pois a morte de seus filhos foi arquitetada.
- Arquitetada? – Rugiu Hércules.
- Sim. – Continuou a ave, levantando voo até uma distância segura do homem que se pôs de pé e começou a tremer de ódio – Hera não tolerou sua felicidade e, por isso, fez com que Ate o cobrisse com seu véu, para que entrasse num estado de loucura e fizesse o que fez. Ela quer sua ruína.
Sentindo sua ira fervilhar, ardendo ao lado de sua frustração e sensação de impotência perante as maquinações dos deuses, Hércules questionou o que deveria fazer.
- Continue sua viagem para Delfos, encontre o Oráculo, mas faça a pergunta certa. Descubra o que deve fazer, para que seu crime seja perdoado pelos deuses.
- Meu crime?! Eu fui induzido à loucura e ainda tenho que me remediar por isso? Para que uma deusa qualquer fique satisfeita?
- Infelizmente sim. – Respondeu a coruja, alçando voo para os céus – Mas você não estará sozinho, seu pai pediu para que Athena fique sempre ao seu lado, e ela irá fazer isso.
Vendo a sombra da ave desaparecer no horizonte, Hércules deu vazão à sua cólera, e a clareira passou a ter quase quatro vezes o seu tamanho anterior quando o herói voltou para a estrada e rumou para Delfos.


Por carregar tesouros de Tebas, Hércules foi recebido com rapidez pelos sacerdotes do templo de Apollo, morada do Oráculo de Delfos. A mistura de cheiros do lugar era nauseante, fazendo a respiração se tornar trabalhosa e deixando a mente com pensamentos leves.
O gigante teve dificuldades de colocar sua mente em ordem, antes de proferir a pergunta que desejava.
A jovem virgem, envolta em gases saídos do chão, se curvou e grunhiu em uma linguagem desconhecida para o herói, que teve de ser traduzida por dois velhos sacerdotes, cujos olhos cheios da mais pura luxúria não se afastavam das curvas quase infantis da moça.
- Você deverá ir para Micenas, se colocar ao serviço de seu primo Euristeu, quem lhe demandará dez trabalhos. Se tiver sucesso em cumprir tais empreitadas, seus crimes serão perdoados e você poderá buscar novamente sua felicidade e será também recompensado da forma mais inesperada e divina.
Sem tolerar mais os odores e o olhar dos sacerdotes e sem ter mais o que ouvir, Hércules se retirou do templo, sentindo seu coração mais leve ter encontrar uma forma de conseguir o perdão, não dos deuses, mas de seus próprios filhos.

E seguiu para Micenas, rumo à cidade que o faria o herói mais famoso e reconhecido de toda a história.

E é assim que todo o teatro foi montado pra nossa aventura!

Só me resta agora desejar a todos vocês um excelente 2014, que promete vir com muitas novidades aqui no Mitologia Verta!

Saudações mitológicas e até a próxima!